A falácia do fomento florestal

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FOMENTO FLORESTAL

Os programas de fomento florestal muitas vezes são apresentados como uma solução vantajosa para ambos os lados envolvidos. No entanto, uma análise mais profunda revela que essa estrutura de mercado é extremamente benéfica para o fomentador, que assume o papel de monopsonista, e desfavorável para o fomentado, que acaba arcando com a maior parte dos custos e obtendo a menor parcela ou nenhuma rentabilidade.

O fomentador, geralmente uma grande empresa do setor florestal, aproveita sua posição de monopsonista – ou seja, sendo o único ou principal comprador de madeira na região – para impor condições comerciais que favorecem seus interesses.  Isso inclui fixar preços baixos para a compra da madeira e transferir para o fomentado a responsabilidade custo de oportunidade da terra. Ou seja, o projeto de fomento é vendido para o produtor desconsiderando a opção de que ele poderia usar a terra para outra finalidade, como se a área só pudesse ser usada para o plantio de floresta, uma idiossincrasia tremenda.

O detalhe adicional é que além de não estar utilizando terras de vocação essencialmente florestal, o fomentador defendendo seu interesse, sonega ao produtor, que quase sempre é ignorante em conceitos econômicos, o fato de que ele assumirá o elevado custo de oportunidade.

A rentabilidade esperada pelo fomentado pode ser afetada negativamente pela dependência de um único comprador, o que limita seu poder de negociação e potencial de lucro. A taxa de retorno dos projetos florestais é de 4 a 5 vezes menor quando comparada com projetos de culturas anuais, o que significa que o preço da madeira pago pelo fomentador deveria ser, no mínimo, o dobro.

Adotar programas de fomento florestal por pequenos produtores deve ser encarado como uma estratégia de diversificação, como forma de minimizar os riscos financeiros da propriedade. Em raríssimos casos, o fomento florestal difundido pelos grandes conglomerados tem se mostrado efetivamente rentáveis.

Em 2021, em uma brilhante transmissão conduzida por Ricardo Malinovsky com participação de 4 medalhões da consultoria florestal Jefferson Mendes, João Comério, Joésio Siqueira e Marcelo Shmidt, o professor Joésio, com a eloquência que lhe é particular, comentou sobre recentes estudos conduzidos pela STCP, onde em mais de 75 mil hectares, a floresta foi substituída por culturas agrícolas.

Isso significa basicamente duas coisas. A primeira é que se plantou floresta em terras aptas para agricultura, um tremendo erro. E a segunda é que o produtor sabe fazer conta. Em um primeiro momento levado por condições pontuais dos ciclos de mercado ele pode até ser seduzido a plantar florestas, mas se no longo prazo não se verificar a devida rentabilidade, nenhum produtor ficará até o final do ciclo e imediatamente irá abandonar o cultivo de florestas.

Em resumo, a falácia dos programas de fomento florestal reside na desigualdade intrínseca dessa relação de mercado. Enquanto o fomentador, em sua posição de monopsonista, maximiza seus lucros minimizando seus custos, o fomentado enfrenta uma realidade financeira desafiadora, com baixa rentabilidade e o elevado custo de por muito tempo não poder destinar a área para outra cultura.

Para equilibrar essa dinâmica, é necessário que haja, como por exemplo em países com tradição florestal como Finlândia, a adoção da economia do bem comum, onde o negócio bom é aquele bom para ambas as partes envolvidas. Tal forma de negociação assegura que haverá uma distribuição mais justa dos benefícios econômicos derivados do cultivo florestal.

O setor florestal vive um momento muito especial, com desburocratização e estabelecimento de projetos históricos como o Projeto Cerrado. É fato que há espaço para discussões como essa, pois a medida que o segmento de florestas plantadas avança para regiões marginais, haverá perda de produtividade, o que se traduzirá em maior necessidade área de plantio para suportar a implementação dos grandes projetos que darão o drive deste formidável setor.

Caso não haja por parte das empresas uma revisão de suas políticas de fomento, a expansão das áreas de plantio levará a uma tremenda elevação do capital imobilizado em terras, em um cenário de perda de produtividade das florestas. Será um custo que irá inviabilizar boa parte dos promissores projetos que hoje estão na prancheta.

É urgente que haja, por parte das empresas, uma revisão de suas políticas de fomento, para que o produtor seja incluído de fato no projeto. Na ponta do lápis, os fomentados são apenas marketing para as empresas.