Angico (Piptadenia paniculata)

Angico

Piptadenia paniculata

Em meio à aridez da Caatinga brasileira, ergue-se o Angico (Piptadenia paniculata), uma árvore majestosa que desafia as intempéries e encarna a resiliência da vida. Com troncos robustos e copa frondosa, o Angico pode alcançar até 20 metros de altura, tornando-se um símbolo de força e resistência nessa região semiárida.

Mais do que um mero elemento da paisagem, o Angico é um oásis de vida na Caatinga. Sua copa frondosa oferece sombra e abrigo para diversos animais, enquanto suas raízes profundas captam a água escassa do solo, garantindo a sobrevivência da árvore e dos seres que dela dependem.

O Angico possui grande importância para as comunidades que vivem na Caatinga. Sua madeira, rica em tanino, é utilizada na construção de casas, móveis e utensílios. As folhas da árvore servem como forragem para o gado, enquanto suas flores são apreciadas por abelhas, contribuindo para a polinização de outras plantas.

Além de seus usos tradicionais, o Angico também possui propriedades medicinais. A casca da árvore é utilizada no tratamento de diarreia, disenteria e doenças inflamatórias. As folhas também são utilizadas como chá para aliviar dores de cabeça e febre.

Preservar o Angico é crucial para a manutenção da Caatinga e para o bem-estar das comunidades que nela vivem. Através de ações de conscientização, reflorestamento e manejo sustentável, podemos garantir que essa árvore majestosa continue a prosperar nesse bioma único, perpetuando sua beleza, legado e inspirando as futuras gerações.

Angico (Piptadenia paniculata)

Taxonomia e Nomenclatura

De acordo com o Sistema de Classificação de Cronquist, a taxonomia de Piptadenia paniculata obedece à seguinte hierarquia:

Divisão: Magnoliophyta (Angiospermae)

Classe: Magnoliopsida (Dicotiledonae)

Ordem: Fabales

Família: Mimosaceae (Leguminosae Mimosoideae).

Espécie: Piptadenia paniculata Bentham; in Hooker, Joun. Bot. 4: 338. 1841, “1842”.

Sinonímia botânica: Piptadenia paniculata Bentham var. aculeata Burkart; Piptadenia paniculata Bentham var. paniculata; Pityrocarpa paniculata (Bentham) Brenan

Nomes vulgares: angico-paniculata, no Paraná; cobi, no Espírito Santo; e unha-de-gato, no Estado de São Paulo.

Etimologia: Piptadenia vem do grego piptein (cair) e aden (abundantemente); referência à caducidade das folhas; o termo paniculata significa inflorescência em panícula (Burkart, 1979).

Descrição

Forma biológica: árvore perenifólia, com 5 a 10 m de altura e 15 a 25 cm de DAP, podendo atingir até 20 m de altura e 50 cm de DAP, na idade adulta.

Tronco: geralmente tortuoso, com acúleos dispersos e ralos. Fuste curto com até 8 m de comprimento.

Ramificação: cimosa e irregular. Copa alongada, com folhagem verde-escura, e ramos com ou sem espinhos.

Casca: com espessura de até 15 mm. A casca externa é acinzentada, áspera e levemente fissurada. A casca interna é amarelo-clara.

Folhas: compostas, com 3 a 4 pares de pinas, folíolo mais raquis de 6 a 15 cm de comprimento, folíolo relativamente grande de 1 a 2,5 cm de comprimento por 0,5 a 1 cm de largura, com grossa glândula séssil, orbicular na base superior do pecíolo e uma menor nos extremos raquial e pinar. Pinas com ráquis pubérulo no bordo superior, com 6 a 10 pares de folíolos (Klein, 1982).

Flores: pequenas, sésseis, brancas ou bege, perfumadas, em inflorescências em espigas filiformes, delgadas, reunidas em panículas apicais ou subapicais de até 10 cm de comprimento, que ultrapassam a folhagem.

Fruto: legume não moniliforme, com margens retas, compresso-achatado, de deiscência bivalve, com 10 a 20 cm de comprimento, de coloração marrom (Lima, 1985).

Semente: castanha achatada, elíptico-oval, sem asa, transversal, sem endosperma e embrião com plúmula diferenciada em pinas.

Biologia Reprodutiva e Fenologia

Sistema sexual: planta hermafrodita.

Vetor de polinização: principalmente as abelhas.

Floração: em janeiro, no Paraná.

Frutificação: os frutos amadurecem de maio a junho, no Paraná e de setembro a outubro, no Espírito Santo.

Dispersão de frutos e sementes: autocórica, principalmente barocórica, por gravidade e anemocórica, pelo vento.

Ocorrência Natural

Latitude: 16º S na Bahia a 28º S em Santa Catarina.

Variação altitudinal: de 30 m em Santa Catarina, a 900 m na localidade de Tigre, Município de Tunas de Paraná, PR (Burkart, 1979).

Distribuição geográfica: Piptadenia paniculata ocorre de forma natural no Brasil, nos seguintes Estados (Mapa 8):

• Bahia (Lewis, 1987).

• Espírito Santo (Jesus, 1988).

• Paraná (Burkart, 1979; Dombrowski & Scherer Neto, 1979; Roderjan & Kuniyoshi, 1988).

• Estado do Rio de Janeiro (Guimarães, 1951; Barroso, 1962/1965; Euler et al., 1998; Costa et al., 2000).

• Santa Catarina (Burkart, 1979)

• Estado de São Paulo.

Aspectos Ecológicos

Grupo sucessional: espécie secundária inicial.

Características sociológicas: o angico é abundante na floresta primária, onde ocupa o estrato intermediário. É freqüente na vegetação secundária, nos estágios de capoeira, capoeirão e floresta secundária, principalmente nas encostas dos morros.

Regiões fitoecológicas: Piptadenia paniculata é espécie característica da Floresta Ombrófila Densa (Floresta Atlântica), nas formações Submontana e Montana, não ocorrendo na planície (Klein, 1979/ 1980; Roderjan & Kuniyoshi, 1988) e, na Floresta de Tabuleiro, no norte do Espírito Santo (Rizzini et al., 1997)

OCORRENCIA DE Angico (Piptadenia paniculata)

Locais identificados de ocorrência natural de angico (Piptadenia paniculata), no Brasil

Clima

Precipitação pluvial média anual: desde 1.100 mm no Estado do Rio de Janeiro a 2.000 mm no Paraná.

Regime de precipitações: chuvas uniformemente distribuídas, no litoral do Estado do Rio de Janeiro a Santa Catarina, e periódicas, com chuvas concentradas no verão, nos outros Estados.

Deficiência hídrica: nula, no litoral do Estado do Rio de Janeiro a Santa Catarina, a moderada (no inverno), no norte do Espírito Santo, com estação seca de até 3 meses. A espécie foi introduzida satisfatoriamente em regime pluvial uniforme, no sudoeste paranaense.

Temperatura média anual: 18,5ºC (Rio do Sul, SC) a 23,7ºC (Rio de Janeiro, RJ), em ocorrência natural. A espécie foi introduzida em local com temperatura média anual de 19ºC.

Temperatura média do mês mais frio: 14,1ºC (Rio do Sul, SC) a 21,3ºC (Rio de Janeiro, RJ).

Temperatura média do mês mais quente: 23,8ºC (Rio do Sul, SC) a 26,5ºC (Rio de Janeiro, RJ).

Temperatura mínima absoluta: -5,5ºC (Rio do Sul, SC).

Número de geadas por ano: ausentes ou raras.

Tipos climáticos (Koeppen): tropical (Af e Am), subtropical úmido (Cfa), mais raro em Tunas do Paraná, PR.

Solos

Piptadenia paniculata é considerada padrão de solos de fertilidade química baixa (Correa, 1926), vegetando naturalmente em solos úmidos e de drenagem lenta e com textura de arenosa a franca.

Introduzida em solo de textura argilosa, com relevo plano a levemente ondulado, com algumas ocorrências de pedras soltas, apresentou crescimento satisfatório.

Sementes

Colheita e beneficiamento: os frutos do angico devem ser colhidos quando mudam de coloração. Estes devem ser abertos em ambiente ventilado, para extração das sementes.

Número de sementes por quilo: 12 mil a 17 mil.

Tratamento para superação da dormência: não é necessário, uma vez que as sementes dessa espécie não apresentam dormência.

Longevidade e armazenamento: as sementes de Piptadenia paniculata apresentam comportamento recalcitrante em relação ao armazenamento e perdem rapidamente a viabilidade, sob armazenamento em ambiente não controlado.

Produção de Mudas

Semeadura: recomenda-se semear duas sementes em sacos de polietileno com dimensões mínimas de 20 cm de altura e 7 cm de diâmetro, ou em tubetes de polipropileno de tamanho médio.

A repicagem pode ser feita 2 a 4 semanas após o início da germinação.

Germinação: epígea, com início entre 7 a 30 dias após a semeadura. O poder germinativo é alto, até 100%; em média de 80%. As mudas atingem porte adequado para plantio, cerca de 6 meses após a semeadura.

Associação simbiótica: as raízes dessa espécie associam-se com Rhizobium.

Características Silviculturais

Piptadenia paniculata é uma espécie heliófila, que não tolera baixas temperaturas.

Hábito: apresenta inclinação do fuste e presença de multitroncos. Não apresenta desrama natural. Recomenda-se poda de condução e dos galhos.

Métodos de regeneração: apresenta crescimento satisfatório em plantio puro a pleno sol em solos férteis. Essa espécie pode ser plantada, também, em plantio misto, associado com espécies pioneiras. Brota da touça, após corte.

Crescimento e Produção

Piptadenia paniculata é pouco usada em plantios, mas seu crescimento é rápido, atingindo até 26 m3.ha-1.ano-1 (Tabela 8). Estima-se rotação a partir de 10 anos para energia, e a partir de 20 anos para serraria.

Características da Madeira

Massa específica aparente: a madeira de P. paniculata é moderadamente densa (0,55 a 0,70 g.cm-3), a 15% de umidade.

Massa específica básica: 0,47 g.cm-3 (Silva et al., 1983).

Cor: alburno e cerne não diferenciados.

Características gerais: superfície lisa ao tato e ligeiramente lustrosa; textura grossa; grã irregular. Cheiro e gosto imperceptíveis.

Outras características: a descrição anatômica da madeira dessa espécie é encontrada em Prates (1990).

Produtos e Utilizações

Madeira serrada e roliça: geralmente uso local, em tabuado, carpintaria, marcenaria, obras externas, esteios, mourões, vigas e cabos de ferramentas.

Energia: espécie recomendada para produção de lenha. Poder calorífico da madeira de 5.016 kcal/kg e poder calorífico da casca de 5.093 kcal/kg (Silva et al., 1983).

Celulose e papel: espécie inadequada para este uso.

Outros Usos

Apícola: essa espécie fornece pólen e néctar em pequenas quantidades.

Reflorestamento para recuperação ambiental: a espécie é recomendada para a recuperação de solos de baixa fertilidade química e revegetação de áreas degradadas.

Espécies Afins

Alguns botânicos diferenciam duas variedades para essa espécie, às vezes consideradas como sinônimas: variedades aculeata e paniculata.

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