Biodiversidade, clima e as florestas

Num contexto onde a crise climática ganha protagonismo nas narrativas jornalísticas, os desastres ambientais como enchentes, secas intensas, queimadas e surtos de pragas se tornam eventos cada vez mais recorrentes e impactantes na história da humanidade. Revelando uma alarmante realidade, o recente relatório da FAO sobre o impacto desses eventos na agricultura e segurança alimentar indica uma perda econômica média de US$ 170 bilhões por ano na última década, com picos notáveis em 2011 e 2017. A América Latina e o Caribe, por sua vez, contabilizaram uma perda de cerca de US$ 29 bilhões entre 2008 e 2018, resultante da diminuição na produção agrícola e pecuária.

O aspecto humano dessa crise climática também se faz evidente, com projeções alarmantes da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) indicando que, se não houver ações efetivas em relação ao clima, cerca de 200 milhões de pessoas por ano se tornarão refugiadas climáticas até 2050.

Paralelamente, a perda de biodiversidade emerge como uma questão crítica, evidenciando a necessidade urgente de medidas robustas. De acordo com o Fórum Econômico Mundial, a atividade humana já resultou na perda de 83% dos mamíferos selvagens e metade das plantas. A continuidade desse padrão de exploração coloca em risco entre 30% e 50% das espécies, estimando-se que muitas delas desaparecerão até meados do século 21, antes mesmo de serem identificadas pela ciência. Este cenário representa a perda potencial de substâncias com notável potencial, incluindo medicamentos e vacinas, associadas a essas espécies.

Embora esforços globais, materializados em convenções e acordos internacionais, visem evitar um colapso ambiental, a realidade é que o progresso é lento. No ano de 2022, o mundo testemunhou a perda equivalente à Suíça em florestas tropicais primárias, totalizando 4,1 milhões de hectares, conforme aponta o Global Forest Watch. O Brasil, apesar de sua riqueza ambiental, liderou esse triste ranking de desmatamento, com mais de 1,5 milhão de hectares perdidos.

O Brasil, detentor de vastos ativos naturais, encontra-se em uma posição privilegiada para liderar esforços na agenda ambiental global. Com mais de 60% de seu território coberto por vegetação nativa, abrigando a maior floresta tropical do mundo e possuindo 12% das reservas de água doce globais, o país possui os recursos necessários para protagonizar a luta pela preservação ambiental. A matriz energética brasileira, composta em média por 47% de fontes renováveis, supera significativamente a média global.

Entretanto, essa riqueza representada pela Amazônia enfrenta ameaças sérias, incluindo garimpo ilegal, desmatamento, grilagem e incêndios florestais. Para evitar o declínio desses ecossistemas, é imperativo atribuir à Amazônia e a outros biomas brasileiros o destino da bioeconomia, da inovação verde e do uso sustentável dos recursos naturais, promovendo desenvolvimento socioambiental pela valorização da floresta em pé.

Nesse cenário, é crucial além do combate às práticas criminosas contra o meio ambiente e as comunidades tradicionais, investir em ciência, pesquisa e inovação. O desconhecimento muitas vezes é inimigo da valorização, tornando urgente o investimento em pesquisa básica para explorar o vasto potencial das florestas. Valorizar produtos e conhecimentos tradicionais pode impulsionar setores como alimentação, farmacêutico, cosmético e outros. Para isso, é fundamental fornecer logística e infraestrutura para viabilizar a comercialização responsável dos recursos naturais.

A bioeconomia surge como uma alternativa viável, especialmente na gestão sustentável de florestas para fins industriais. O setor de árvores cultivadas no Brasil exemplifica isso, com 9,9 milhões de hectares dedicados ao plantio, colheita e replantio, além de manter mais de 6 milhões de hectares de áreas conservadas. A abordagem de paisagem, com mosaicos florestais intercalando áreas produtivas e de conservação, cria corredores ecológicos benéficos para flora e fauna.

As práticas de manejo sustentável adotadas pelo setor ao longo das últimas décadas resultaram em índices notáveis de biodiversidade, com 8.300 espécies registradas, incluindo 335 ameaçadas de extinção. A atuação do setor na mitigação das mudanças climáticas se manifesta em diversos vetores, incluindo remoção e estoque de carbono, energia de fontes renováveis e emissões evitadas. Produtos derivados do setor também estocam carbono, como evidenciado pelo fato de que 45% da massa de um livro, por exemplo, é composta de carbono.

A indústria de base florestal não apenas fornece matéria-prima renovável e sustentável para a produção de mais de 5 mil bioprodutos, mas também se destaca por sua abordagem de ponta a ponta, priorizando a sustentabilidade desde o cultivo até o pós-uso. Esse compromisso alinha-se não apenas com aspectos financeiros, mas com uma visão mais ampla de prosperidade, fundamentada no uso sustentável dos recursos naturais e florestas.

O setor de árvores cultivadas representa um exemplo concreto de como produção e conservação podem coexistir. Isso demonstra que é possível conciliar uma indústria robusta com compromissos ambientais globais, oferecendo soluções tangíveis para as crises atuais. Esses exemplos fornecem um caminho viável para atingir metas globais e evitar o agravamento das crises climáticas.

Todas as florestas, independentemente de sua origem ou localização, apresentam oportunidades para prosperar numa economia verde. No entanto, essas oportunidades não se encontram simplesmente, mas são construídas a partir de uma nova visão de prosperidade. Para tanto, o uso sustentável dos recursos naturais e das florestas emerge como componente vital da estratégia, tão crucial quanto os aspectos financeiros.