Por: CAMILLA MARANGON
Gerente de Sustentabilidade e Assuntos Florestais da IBÁ
REVISTA OPAPEL
O futuro exige a reinvenção de nossos hábitos. Se levamos a natureza até o ponto próximo da inflexão, temos que trabalhar para resgatá-la da crise em que se encontra. Este caminho não nos permite considerar atalhos, sob o risco de colocarmos em perigo o nosso amanhã e das próximas gerações. Nesta jornada, é preciso lançar mão de todas as ferramentas que possam auxiliar a atestar o cuidado com a natureza e as comunidades, como a certificação florestal.
Certamente, você já se deparou com os selos FSC ou PEFC em diversos produtos do seu dia a dia, como cadernos, livros, embalagens de leite e papel, além de etiquetas de roupas.
Esses distintivos indicam que o item em questão foi produzido a partir de matérias-primas provenientes de florestas manejadas de forma responsável, reafirmando o compromisso com a preservação do planeta e a geração de valor para a sociedade. Essas certificações ambientais desempenham um papel fundamental ao informar e conscientizar o consumidor sobre práticas sustentáveis na cadeia produtiva.
As empresas de base florestal atendem a requisitos extremamente criteriosos para receber tais selos de maneira voluntária há mais de 20 anos. São cerca de dez princípios com mais de 215 indicadores, que periodicamente são checados de modo presencial por auditores, na busca por confirmar a responsabilidade socioambiental das companhias.
Em meio a um cenário marcado pela realidade das mudanças climáticas e da perda de biodiversidade, as certificações FSC e PEFC desempenham um papel crucial como garantias à sociedade de que as empresas não estão envolvidas em práticas ilegais de desmatamento e possuem um compromisso sólido com a conservação ambiental.
A demanda por produtos que ostentam esses selos representa uma escolha deliberada em prol de um consumo mais consciente, onde os consumidores buscam contribuir para a preservação do meio ambiente e a sustentabilidade das práticas industriais. Essas certificações atuam como baluartes na construção de um futuro mais sustentável e responsável.
As instituições responsáveis pelas certificações, como FSC e PEFC, desempenham um papel crucial ao avaliar e atestar o impacto positivo das empresas nas comunidades onde estão inseridas. Essas avaliações abrangem aspectos como o bem-estar e a segurança das pessoas envolvidas nas operações, bem como o desenvolvimento socioeconômico das regiões em que as empresas atuam.
Ao garantir que as práticas empresariais estejam alinhadas com critérios rigorosos de responsabilidade social e ambiental, essas certificações fornecem uma validação independente e confiável do comprometimento das organizações com o desenvolvimento sustentável e a promoção do bem comum.
Essas certificações evidenciam que os participantes no processo produtivo operam em um ambiente de trabalho caracterizado pela equidade, ausência de discriminação e segurança, com a implementação de boas práticas de prevenção de acidentes. Além disso, essas chancelas também asseguram o apoio ao desenvolvimento socioeconômico das comunidades circunvizinhas, ao comprovar a implementação de projetos de capacitação e a preferência pela contratação de residentes locais ou fornecedores próximos das operações.
O reconhecimento de que não há uma ilha de prosperidade em meio a um mar de pobreza é fundamental nas operações certificadas. Nesse contexto, a atenção voltada para toda a paisagem é uma prioridade séria. O comprometimento das empresas no âmbito socioambiental é constante e impulsionado pela busca de melhorias contínuas a cada dia.
As reavaliações periódicas conduzidas pelas certificadoras, que estão se tornando cada vez mais rigorosas, asseguram que os selos sejam concedidos apenas a empresas que verdadeiramente demonstram um impacto socioambiental positivo substancial. Esse processo de validação contínuo reflete o compromisso das organizações certificadas em promover práticas sustentáveis e contribuir para o desenvolvimento positivo das comunidades e do meio ambiente.
Este trabalho representa um pioneirismo notável no setor de árvores cultivadas para fins ambientais, que se empenha na consolidação dessa verificação independente desde os primórdios das certificações internacionais, por volta da década de 1990. Atualmente, o setor no Brasil ostenta a marca de 7,37 milhões de hectares de áreas certificadas.
Essa conquista é um testemunho do comprometimento contínuo da indústria em adotar práticas sustentáveis, respeitar normas ambientais e sociais, e promover a transparência por meio de avaliações independentes. A significativa extensão de áreas certificadas reflete não apenas a adesão, mas também o esforço constante para alcançar padrões elevados de responsabilidade socioambiental.
No contexto do setor de árvores cultivadas, as certificações desempenham um papel crucial, complementando as diretrizes estabelecidas pelo Código Florestal. Ambos os instrumentos reforçam a importância da preservação das matas ciliares, desempenhando um papel vital na garantia da disponibilidade de água nos rios e na proteção da biodiversidade.
Ao aderir a essas certificações e cumprir as diretrizes do Código Florestal, as empresas do setor não apenas atendem a padrões rigorosos de sustentabilidade, mas também assumem responsabilidade na conservação dos recursos hídricos e na promoção da diversidade biológica, contribuindo assim para a preservação do meio ambiente.
As técnicas de manejo nos plantios comerciais estão passando por uma evolução contínua, com análises, adaptações e a implementação regular de melhorias para prevenir e mitigar impactos ao meio ambiente. Nas extensas áreas dedicadas a esse setor, o estoque de carbono atinge a impressionante marca de 4,5 bilhões de toneladas de CO2 equivalente.
Além disso, o registro da flora e fauna nesses locais ultrapassa as 8 mil espécies identificadas, evidenciando o notável potencial dessas áreas para a preservação da biodiversidade. Esses números não apenas refletem o comprometimento do setor com a busca de práticas cada vez mais sustentáveis, mas também ressaltam a sua atenção à conservação ambiental e à promoção da diversidade biológica.
O reconhecimento e a identificação de uma gama tão extensa de espécies demonstram um esforço proativo em equilibrar a atividade comercial com a preservação do ecossistema, fortalecendo a importância da sustentabilidade no cenário agrícola.
Não podemos subestimar o fato de que a atuação responsável e certificada das empresas não só reforça a reputação do setor florestal, mas também abre portas para diversas oportunidades no próspero comércio internacional. Atualmente, o setor se destaca como o maior exportador global de celulose, e essa posição é fortalecida pela adoção das práticas determinadas pelas instituições que realizam a certificação florestal.
Os benefícios não se limitam apenas ao setor, mas se estendem ao país como um todo, uma vez que as exportações dessa indústria geram divisas significativas, na ordem de US$ 11 bilhões. Essa contribuição substancial para a economia destaca a importância de conciliar o desenvolvimento econômico com a responsabilidade ambiental para promover um modelo de negócios sustentável e vantajoso para a nação.
Do ponto de vista do consumidor, as certificações florestais representam o compromisso socioambiental que as empresas do setor florestal colocam em prática em seu cotidiano. Mais do que simples selos, essas certificações funcionam como os olhos dos consumidores nas operações do setor de árvores cultivadas.
Elas não apenas validam a responsabilidade ambiental das empresas, mas também servem como um estímulo para que o consumo consciente vá além de uma mera bandeira, transformando-se em uma prática diária.
Ao escolher produtos com selo de certificação florestal, os consumidores exercem seu poder de influenciar positivamente as práticas industriais, promovendo assim um ciclo virtuoso em direção a um consumo mais sustentável e alinhado com os valores socioambientais.