Jacarandá-da-Bahia

Jacarandá-da-Bahia

Dalbergia nigra

 

Na Mata Atlântica brasileira, ergue-se o jacarandá-da-Bahia (Dalbergia nigra), árvore majestosa que ostenta porte de até 25 metros, copa frondosa e tronco imponente de até 1 metro de diâmetro. Sua madeira densa e escura, considerada uma das mais valiosas do mundo, encanta com veios marcantes e é utilizada em móveis, instrumentos musicais e obras de arte.

Entre setembro e novembro, o jacarandá-da-Bahia se veste de um espetáculo de flores lilás-azuladas em forma de trompete, atraindo polinizadores e contribuindo para a reprodução de diversas plantas. Além da beleza ornamental, suas flores possuem propriedades medicinais, sendo utilizadas no tratamento de doenças respiratórias e intestinais.

Seus frutos carnudos e nutritivos alimentam diversos animais, desde pequenos roedores até grandes mamíferos. A copa frondosa fornece sombra e abrigo para a fauna e flora local, enquanto suas raízes profundas estabilizam o solo e previnem a erosão. O jacarandá-da-Bahia também purifica o ar, absorvendo dióxido de carbono e liberando oxigênio vital.

Infelizmente, essa espécie única enfrenta a devastação da Mata Atlântica, perda de habitat e exploração madeireira insustentável. Sua preservação é crucial para a manutenção da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos que ela oferece.

JACARANDÁ DA BAHIA

Taxonomia e Nomenclatura

De acordo com o Sistema de Classificação de Cronquist, a taxonomia de Dalbergia nigra obedece à seguinte hierarquia:

Divisão: Magnoliophyta (Angiospermae)

Classe: Magnoliopsida (Dicotiledonae)

Ordem: Fabales

Família: Fabaceae (Leguminosae Papilionoideae)

Espécie: Dalbergia nigra (Vellozo) Freire Allemão ex Bentham; Journ. Linn. Soc. Suppl. 4:36, 1860.

Sinonímia botânica: Pterocarpus niger Vellozo

Nomes vulgares no Brasil: caábiuna; cabeúna; cabiúna, no Espírito Santo, em Minas Gerais e no Estado do Rio de Janeiro; cabiúna-branca em Minas Gerais; cabiúna-miúda; cabiúna-parda; cabiúna-preta; cabiúna-rajada; cabiúna-roxa; camborá; camburana; camburiuna; caviúna, na Bahia, em Minas Gerais, nos Estados do Rio de Janeiro e de São Paulo; caviúna-amarela; caviúna-preta; caviúna-rajada, no Estado de São Paulo; caviúna-roxa; caviúna-violeta e jacarandá-cabiúna, no Espírito Santo; caviúna-do-mato, jacarandá-atan, jacarandá-negro, jacarandá-rajado, jacarandá-roxo, jacarandá-una e jacarandá-verdadeiro, na Bahia; coviúna; graúna, na Bahia e em Minas Gerais; imiraúna; jacarandá, na Bahia e no Estado do Rio de Janeiro; jacarandá-branco; jacarandá-caviúna, na Bahia, no Espírito Santo, em Minas Gerais, nos Estados do Rio de Janeiro e de São Paulo; jacarandá-coviúna; jacarandá-pitanga; jacarandá-preto, na Bahia, no Espírito Santo, em Minas Gerais e no Estado de São Paulo; jacarandá-violeta; jacarandazinho e pau-preto, oEstado do Rio de Janeiro; e uraúna.

Nomes vulgares no exterior: é conhecido principalmente por brazilian rose wood e palissandre (National, 1979).

Etimologia: Dalbergia é em homenagem ao médico sueco N. Dalberg (1730 — 1830) (Marchiori, 1995); o termo nigra se justifica pelo fato de a madeira ser bem escura.

Descrição

Forma biológica: árvore semicaducifólia, com 10 a 20 m de altura e 15 a 45 cm de DAP, podendo atingir excepcionalmente até 35 m de altura e 155 cm de DAP, na idade adulta (Leão & Vinha, 1975).

Tronco: tortuoso e irregular. Fuste com até 10 m de comprimento.

Ramificação: cimosa, irregular. Copa larga, achatada e densifoliada.

Casca: com espessura de até 7 mm. A casca externa é pardo-acinzentada, áspera, longitudinalmente subdividida em pequenas placas verticais retangulares finas e largas, descamando aos poucos e com muitas lenticelas horizontais e estreitas. A casca interna é avermelhada.

Folhas: compostas, alternas, paripinadas, com 10 a 20 folíolos, com 0,7 a 2,5 cm de comprimento por 0,4 a 1,0 cm de largura; os folíolos quando jovens, apresentam-se pilosos, e quando adulto, glabros.

Flores: branco-amareladas, perfumadas, com 0,5 a 1,0 cm de comprimento, reunidas em cachos axilares de até 6 cm de comprimento, dando origem a panículas de até 20 cm.

Fruto: sâmara elíptica ou oblonga, plana, membranácea, indeiscente, com 3 a 8 cm de comprimento e 18 a 22 mm de largura, estipe com 3 a 5 mm de comprimento, em geral com uma semente, mas podendo também conter até duas sementes centrais (Paoli, 1990).

Sementes: castanhas, lisas, reniformes, achatadas e pequenas, de testa delgada, membranáceas. Pormenores morfológicos e anatômicos das sementes dessa espécie são encontrados em Paoli (1991).

Biologia Reprodutiva e Fenologia

Sistema sexual: planta hermafrodita.

Vetor de polinização: principalmente as abelhas e diversos insetos pequenos.

Floração: de setembro a novembro, em Minas Gerais; de outubro a novembro, na Bahia; de outubro a maio, no Espírito Santo, e de novembro a janeiro, no Estado de São Paulo.

Frutificação: os frutos amadurecem de maio a outubro, no Espírito Santo; de agosto a janeiro, no Estado de São Paulo; de setembro a dezembro, em Minas Gerais, e em dezembro, na Bahia.

Dalbergia nigra floresce e frutifica a intervalos de 2 a 3 anos no Espírito Santo e a quantidade de sementes produzidas é variável ano a ano (Jesus & Rodrigues, 1991). A primeira frutificação do jacarandá-da-bahia, introduzido no centro-oeste do Paraná, ocorreu 7 anos após o plantio, em outubro.

Dispersão de frutos e sementes: anemocórica, pelo vento.

Ocorrência Natural

Latitude: 13º15’ S na Bahia a 22º50’ S no Estado de São Paulo.

Variação altitudinal: de 30 m, no Espírito Santo a 1.700 m de altitude, no Estado do Rio de Janeiro.

Distribuição geográfica: Dalbergia nigra é encontrada de forma natural no Brasil, nos seguintes Estados.

JACARANDÁ DA BAHIA (2)

• Bahia (Mattos Filho & Rizzini, 1968; Soares & Ascoly, 1970; Mello, 1973; Leão & Vinha, 1975; Rizzini & Mattos Filho, 1974; Lewis, 1987; Carvalho, 1990; Oliveira et al., 2000).

• Espírito Santo (Ruschi, 1950; Magnanini & Mattos Filho, 1956; Jesus, 1988; Peixoto & Gentry, 1990; Rizzini et al., 1997; Thomaz et al., 2000).

• Minas Gerais (Brandão et al., 1989; Gavilanes et al., 1992; Mendonça Filho, 1996; Bernardo, 1997; Pedralli & Teixeira, 1997; Meira Neto et al., 1998b; Ferreira et al., 1999; Bortoluzzi, 2000; Carvalho et al., 2000).

• Estado do Rio de Janeiro (Mello, 1950; Barroso, 1962/1965; Santos, 1975; Carauta & Rocha, 1988; Carauta et al., 1989; Bloomfield et al., 1997b).

• Estado de São Paulo (Cavalcanti, 1998).

Apesar de ser citada por vários autores (Parente & Queiróz, 1970; Ducke, 1979; Fernandes, 1990; Fernandes & Bezerra, 1990), essa espécie não ocorre no Ceará.

Aspectos Ecológicos

Grupo sucessional: espécie secundária tardia.

Características sociológicas: o jacarandá-da-bahia, no seu habitat, raramente ou nunca se encontra em regeneração natural, por causa do coelho-do-mato (Sylvilagus brasiliensis), ávido pelas plântulas dos gêneros Dalbergia e Machaerium (Duarte, 1978). Esse animal é o maior inimigo natural do jacarandá na fase inicial de sua vida, daí a raridade da espécie.

Regiões fitoecológicas: Dalbergia nigra é espécie característica e exclusiva da Floresta Ombrófila Densa Submontana (Floresta Atlântica). O jacarandá-da-Bahia é também encontrado na floresta pluvial de tabuleiro (Nascimento et al., 1996; Rizzini et al., 1997). Na Região de Caratinguetá, SP, ele ocorre na transição entre a Floresta Estacional Semidecidual e a Floresta Ombrófila Densa (Floresta Atlântica) (Cavalcanti, 1998).

 

Locais identificados de ocorrência natural de jacarandá-da-bahia (Dalbergia nigra), no Brasil.

Densidade: no sul da Bahia, na melhor zona de ocorrência do jacarandá, ele é encontrado numa frequência de 0,8 árvores por hectare, correspondendo a um volume de 1,4 m3.ha-1 (Rizzini & Mattos Filho, 1974).

Clima

Precipitação pluvial média anual: desde 1.100 mm no Estado do Rio de Janeiro a 2.100 mm na Bahia na área de ocorrência natural, atingindo 2.500 mm em Manaus, AM, como espécie introduzida.

Regime de precipitações: chuvas uniformemente distribuídas no sul da Bahia, e periódicas, com chuvas concentradas no verão no norte do Espírito Santo. O jacarandá-da-bahia foi introduzido no sudoeste do Paraná em regime pluvial uniforme, e em Manaus, AM, em regime pluvial periódico.

Deficiência hídrica: sem estação seca definida, no sul da Bahia, e um período de seca de 2 a 4 meses, com déficit hídrico moderado, no norte do Espírito Santo.

Temperatura média anual: 19,4ºC (Viçosa, MG) a 24,3ºC (Ilhéus, BA), na área de ocorrência natural, atingindo até 26ºC na Amazônia.

Temperatura média do mês mais frio: 15,4ºC (Viçosa, MG) a 22,1ºC (Ilhéus, BA).

Temperatura média do mês mais quente: 22ºC (Moji Mirim, SP) a 26,5ºC (Rio de Janeiro, RJ).

Temperatura mínima absoluta: 4,2ºC (Caratinga, MG).

Número de geadas por ano: ausentes, ou raras na parte mais alta de sua distribuição, em Minas Gerais.

Tipos climáticos (Koeppen): tropical: (Af), no litoral da Bahia; (Am e Aw), no interior da Bahia e no Espírito Santo; semi-árido (transição Am/ Bsh), no sertão da Bahia e subtropical de altitude (Cwa), no Estado do Rio de Janeiro e (Cwb), em Minas Gerais, na área de ocorrência.

Foi introduzido satisfatoriamente em clima tropical (Afi e Ami), na Amazônia, e em clima subtropical úmido (Cfa), no Paraná.

Solos

Dalbergia nigra ocorre, naturalmente, em solos de baixa fertilidade química (tabuleiros) e com pH superior a 5,2 (Leão & Vinha, 1975). Segundo Leão & Vinha (1975), em 89% dos casos no sul da Bahia, Dalbergia nigra aparece em terrenos ondulados e montanhosos, ocupando os topos e as encostas das elevações onde ocorrem solos argilosos e argilo-arenosos, profundos e de boa drenagem.

Essa espécie parece ser muito resistente às deficiências de umidade (Gomes et al., 1976). Nos solos mais férteis, onde a floresta é mais densa, ocorre menor número de árvores e com fuste mais fino (Rizzini, 1971). O jacarandá-da-bahia não é exigente em fósforo (P) e prefere solos com baixo teor de alumínio (Al) – (Leão & Vinha, 1975).

Foi introduzido com sucesso na Amazônia, em solos com textura argilosa a muito argilosa – Latossolo Amarelo distrófico (Latossolo Amarelo distrófico) e no Paraná, em solo argiloso – Latossolo Vermelho distroférrico (Latossolo Roxo distrófico).

Sementes

Colheita e beneficiamento: a colheita das sementes pode ser efetuada independentemente da cor, já que ocorrem frutos em vários estágios de coloração na mesma árvore (Rodrigues & Jesus, 1984).

No Espírito Santo, diversas espécies de papagaio se alimentam dos frutos imaturos, prejudicando a produção de sementes da espécie (Rodrigues & Jesus, 1984). Após a coleta, os frutos são colocados em ambiente ventilado para a deiscência e extração manual das sementes.

Número de sementes por quilo: 7.000 (Toledo Filho & Parente, 1988) a 16.360 (Gomes et al., 1976).

Tratamento para superação da dormência: não é necessário, uma vez que a semente dessa espécie não apresenta dormência.

Longevidade e armazenamento: sementes com 12% de umidade no início do armazenamento conservam a viabilidade inalterada por 105 dias, em sala ou em câmara fria (10ºC e 65% UR), em embalagem semipermeável.

Sementes armazenadas em pequenos tamboretes de papelão, em câmara fria (3ºC a 5ºC e 92% de UR) apresentaram germinação de 65%, 2 anos após o armazenamento.

Produção de Mudas

Semeadura: recomenda-se fazer semeadura em sacos de polietileno com dimensões mínimas de 20 cm de altura e 7 cm de diâmetro, em tubetes de polipropileno grande ou em sementeiras para posterior repicagem. Tavares (1978) recomenda a semeadura direta no campo, em virtude do tipo de sistema radicial apresentado pela espécie.

A repicagem não é recomendada por causa da raiz pivotante (Heringer, 1947). Mudas obtidas através da repicagem apresentaram, no campo, tortuosidade na região do colo, afetando a sobrevivência das plantas. Contudo, quando necessária, a repicagem é feita 3 a 5 semanas após o início da germinação.

Germinação: faneroepígea, isto é, os cotilédones libertam-se dos tegumentos, tornando-se foliáceos (Paoli, 1991). O início da germinação ocorre entre 6 a 66 dias após a semeadura, e o poder germinativo varia entre 24% a 90%. As mudas atingem porte adequado para plantio, cerca de 5 meses após a germinação. O sistema radicial dessa espécie é pivotante e profundo.

Cuidados especiais: recomenda-se sombreamento de até 30% para as mudas de jacarandá-da-bahia em viveiro, visto que esse nível de sombreamento promove maior crescimento em altura das mudas, sem comprometer a atividade fotossintética das plantas (Reis et al., 1994).

Associação simbiótica: essa espécie associa-se com Rhizobium, formando nódulos globosos, com atividade da nitrogenase (Faria et al., 1984; Oliveira, 1999). O insucesso na fase de produção de mudas tem sido atribuído à falta de inoculação com estirpe própria de Rhizobium. A inoculação com o fungo micorrízico arbuscular Glomus mosseae foi eficaz para o desenvolvimento do jacarandá-da-bahia, tanto na presença quanto na ausência de bactérias fixadoras de nitrogênio (Milagres & Borges, 1997).

Reprodução vegetativa: através de estaquia, com resultados satisfatórios (Sperândio & Fonseca, 1986). A propagação por microestacas, com 3 a 5 mm de comprimento, deixando-se uma gema, é recomendada por Teixeira et al. (1995). Mello (1996) conseguiu o enraizamento de brotações juvenis individuais em meio MS suplementado, com a combinação de auxinas, depois de 15 dias.

A máxima porcentagem de enraizamento (66%) foi obtida quando o meio foi suplementado com NAA (auxina). A sobrevivência dos micropropágulos, em condições de casa de vegetação, foi baixa (42%).

Características Silviculturais

O jacarandá-da-bahia é uma espécie semi-heliófila, que tolera sombreamento leve a moderado na fase juvenil; não tolera baixas temperaturas.

Hábito: o jacarandá-da-bahia apresenta grande variação de formas, em plantios. Reis et al. (1991) observaram num povoamento com 57 meses de idade, que 7% das árvores apresentavam boa forma de fuste, 35% forma regular e 58% tinham a forma do fuste inadequada. A melhoria da forma das plantas pode ser conseguida por técnicas silviculturais mais adequadas, como espaçamentos mais estreitos, podas de formação e desrama. O emprego de podas de formação sucessivas, a começar do primeiro ano de idade, é uma alternativa para se tentar diminuir o número de bifurcações apresentadas.

Espaçamentos: testes de espaçamentos, realizados em Manaus, AM, indicam que maior quantidade de plantas por unidade de área favorece o desenvolvimento de fuste mais retilíneo e com melhor desrama natural (Sperândio & Fonseca, 1986). Entre os espaçamentos testados, 2 x 2 m e 3 x 2 m proporcionaram as melhores desramas naturais e tiveram o maior número de plantas com fuste reto. Entretanto, os resultados ainda sugerem a necessidade de poda de formação (Fonseca et al., 1990).

Métodos de regeneração: devem ser evitados plantios puros a pleno sol, pois as plantas apresentam elevado grau de esgalhamento e crescimento desorganizado, resultando árvores de tronco curto.

Ainda nesse sistema, as plantas são suscetíveis ao ataque de broca que ataca o tronco, contribuindo para alta taxa de mortalidade, como o verificado em Linhares, ES, aos 57 meses (Jesus et al., 1992).

Recomenda-se plantio misto a pleno sol, associado com espécies pioneiras, de crescimento superior e que mantenham baixa a ramificação do jacarandá. Na Zona da Mata, em Pernambuco, há exemplo bem-sucedido da associação com sabiá (Mimosa caesalpiniifolia) (Suassuna, 1982).

Observa-se, na Tabela, a superioridade do plantio misto sobre o plantio puro (Silva & Torres, 1993), ou plantio em linhas de enriquecimento, em capoeira densa: essa prática fornece pouca luminosidade lateral para as plantas, o que pode favorecer o crescimento retilíneo e a boa desrama natural, bem como evitar o ataque da broca no tronco.

Na Amazônia, recomenda-se abertura de faixas de 3 m de largura, com distância entre as linhas de plantio de 10 m, sendo a faixa de capoeira remanescente de 7 m de largura (Sperândio & Fonseca, 1986). O jacarandá-da-bahia brota após corte ou após danos causados por geadas.

Sistemas agroflorestais: espécie recomendada para arborização de pastos ou para arborização de culturas. Em plantações de cacaueiro no sul da Bahia, são deixadas árvores de sombra nativas, que são indicadoras de terrenos férteis (Leão & Vinha, 1975).

Melhoramento e Conservação de Recursos Genéticos

Dalbergia nigra está na lista oficial de espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção, categoria vulnerável (Brasil, 1992), bem como em listas de espécies que correm perigo (Rizzini & Mattos Filho, 1986).

Segundo Sperândio & Fonseca (1986), dois fatores principais podem levá-la à extinção: a exploração desordenada e a ausência de plantios de reposi- ção. Testes de procedências detectaram a existência de variações genéticas, dentro e entre procedências, na forma das árvores. Através do melhoramento genético será possível alguma melhoria da forma das plantas.

Crescimento e Produção

O crescimento do jacarandá-da-bahia é moderado a rápido (Tabela 58). Foi observado que o crescimento em locais fora de sua área de ocorrência natural (Amazonas e Paraná) é superior ao verificado na região de ocorrência natural (Espírito Santo).

A rotação para dimensão de madeira comercial é estimada, no Espírito Santo, em 40 anos, quando espera-se uma produção de 100 m3.ha-1 a 150 m3.ha-1. Golfari & Caser (1977) mencionam parcelas experimentais dessa espécie, existentes em Aracruz, ES, Cruz das Almas e Salvador, BA, Maceió, AL e Areia, PB.

JACARANDÁ DA BAHIA (3)

Características da Madeira

Massa específica aparente: a madeira do jacarandá-da-bahia é densa, bastante variável, entre 0,75 a 1,22 g.cm-3, mas, normalmente, entre 0,80 a 1,00 g.cm-3, a 15% de umidade (Pereira & Mainieri, 1957; Mainieri & Chimelo, 1989; Paula & Alves, 1997).

Cor: alburno varia de branco a amarelado, comumente bem demarcado. Cerne geralmente pardo-escuro arroxeado, com listras pretas; às vezes bege-rosado, com reflexos alaranjados e com listras típicas.

Características gerais: superfície lisa ao tato e irregularmente lustrosa; textura fina, oleosa, um pouco áspera; grã varia de reta a irregular.

Cheiro agradável e pouco intenso, muito peculiar da espécie; gosto adocicado.

Durabilidade natural: madeira muito durável, de alta resistência ao ataque de organismos xilófagos em condições favoráveis ao apodrecimento.

Tratamento preservante: madeira de permeabilidade baixa à penetração de soluções preservantes, mesmo em tratamento sob pressão.

Trabalhabilidade: fácil, com bom acabamento e alto polimento natural. Alguns exemplares são, por vezes, muito oleosos, dificultando o polimento (Carvalho, 1990).

Outras Características

O jacarandá-da-bahia é conhecido comercialmente há mais de 300 anos, por ser a mais valiosa das espécies madeireiras que ocorrem no Brasil. Sua madeira, muito procurada para móveis, foi objeto de exportação através dos portos da Bahia e do Rio de Janeiro, desde os tempos coloniais.

Dizem ser o cerne das árvores jovens dessa espécie pouco atrativo e que o cerne — responsável pela produção da famosa madeira — provém de árvores velhas, sendo formado muito lentamente.

Apesar de o rendimento em madeira desdobrada ser pequeno, em face das imperfeições usuais (racha e fende-se facilmente), o seu valor, cerca de US$ 5 mil dólares o metro cúbico serrado, é altamente compensador (Jesus et al., 1992).

Uma árvore adulta produz cerca de 2 m3 de madeira. Na Europa, essa madeira é conhecida com os nomes de palissandre ou rosewood. Em D. nigra, o fator hídrico foi o que mais influenciou o crescimento radial do tronco (Bressan-Smith et al., 1997).

A descrição anatômica da madeira dessa espécie pode ser encontrada em Mello (1950).

Produtos e Utilizações

Madeira serrada e roliça: a madeira do jacarandá-da-bahia, por ter retratibilidade média, resistência mecânica entre média e alta e sobretudo pela aparência típica e agradável, é indicada para fabricação de móveis de luxo, folhas faqueadas decorativas para painéis, revestimento de móveis, caixas de rádio e de televisor (até há algum tempo), peças torneadas, cabos de escovas, cabos para peças de cutelaria, para enta- lhe, marchetaria, peças de adorno, mesas de bi- lhar, carroçaria; em construção civil (caibro, forro, ripa, tabuado, taco e vigamento). É usada, também, na fabricação de instrumentos musicais e de caixas de pianos.

Energia: lenha e carvão de boa qualidade.

Celulose e papel: espécie inadequada para este uso.

Constituintes químicos: foram encontrados dalbergiones especialmente R-3,4-dimethoxydalbergione e seu quinol são responsáveis pelos efeitos sensibilizantes (Gottlieb & Mors, 1980). Maciel & Andrade (1996) encontraram, ainda, compostos fenólicos nas amêndoas e nos tegumentos dessa espécie.

Óleos essenciais: a madeira do jacarandá-da-bahia contém óleo essencial de cheiro muito agradável (Correa, 1969).

Artesanato: a madeira dessa espécie é tradicionalmente usada na confecção de várias peças artesanais.

Paisagístico: espécie usada em arborização de praças, parques e de avenidas (Lorenzi, 1992).

Reflorestamento para recuperação ambiental: espécie recomendada na recuperação do solo, por depositar razoável camada de folhas (Vinha & Pereira, 1983; Vinha et al., 1985; Silva, 1988; Rezende et al., 1997), e por mostrar grande amplitude de tolerância ambiental (Braga et al., 1994).

Principais Pragas

Principalmente a broca-do-tronco ou Psygmatocerus wagleri (Coleoptera:Cerambicidae), notadamente no norte do Espírito Santo e no sul da Bahia.

Nos plantios de introdução na Amazônia e no Paraná, a broca não foi assinalada. No Rio de Janeiro, as larvas de Troezon champion criam-se em sementes dessa espécie.

Espécies Afins

Das espécies brasileiras, Dalbergia spruceana Bentham, conhecida por jacarandá-do-pará, é a espécie mais próxima do jacarandá-da-bahia.

GUIA DE ÁRVORES

JACARANDÁ DA BAHIA