Maior experimento em sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) é concluído

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ILPF EMBRAPA AGROSSILVIPASTORIL

A Embrapa Agrossilvipastoril está concluindo o primeiro ciclo de 12 anos do maior experimento global em sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), realizado em Sinop, Mato Grosso. Essa pesquisa inovadora gerou dados fundamentais que podem orientar recomendações sobre a introdução de árvores em sistemas produtivos integrados.

A escolha da estratégia para o uso de árvores em sistemas de integração é variável e depende dos objetivos de cada produtor. Diversos fatores, como o destino da madeira, o mercado consumidor, a forma de colheita, o uso das árvores como fonte adicional ou substituta de renda, e as características específicas da propriedade, devem ser considerados. Essa multiplicidade de fatores faz com que cada projeto seja único, mas as decisões devem sempre ser baseadas em fundamentos técnicos, como os obtidos por meio da pesquisa.

A Pesquisa

A espécie utilizada no experimento foi o eucalipto (clone H13), conhecido por seu rápido crescimento, técnicas de manejo bem estabelecidas e múltiplas aplicações. As árvores foram testadas em diferentes arranjos: integração lavoura-floresta (ILF), integração pecuária-floresta (IPF), ILPF, além de uma monocultura de eucalipto que serviu como controle. O plantio inicial foi feito em renques de três linhas, com 30 metros de distância entre si. Após intervenções, algumas dessas configurações tiveram as linhas externas removidas, resultando em linhas simples espaçadas por 37 metros.

Durante os 12 anos de experimento, os pesquisadores acompanharam o desenvolvimento das árvores, registrando operações de manejo como poda de galhos e desbastes, além de coletar dados sobre crescimento, acúmulo de biomassa e carbono, efeito bordadura nos renques, estoque de madeira, entre outros.

Os resultados mostraram que, ao longo desse período, os sistemas integrados produziram entre 87 m³ e 114 m³ de madeira por hectare (ha), variando conforme o número de árvores mantidas até o fim do experimento. Contudo, um maior número de árvores causou um impacto negativo na produção de grãos e forragem dentro do sistema.

“Quando falamos em sistemas de integração, precisamos considerar a produtividade de todo o sistema. Se eu aumento o número de árvores, haverá uma redução na produção da lavoura e da pecuária. Por isso, o aumento do número de árvores deve ser avaliado com base no desempenho global do sistema”, explica o pesquisador Maurel Behling.

Já a área de controle, composta pela monocultura de eucalipto, produziu 350 m³/ha ao longo dos 12 anos, permanecendo dentro da média de incremento anual do clone H13 em áreas de silvicultura no Mato Grosso, que é de 32 m³/ha.

Crescimento e Acúmulo de Carbono

Os dados sobre crescimento em altura, diâmetro à altura do peito (DAP) e volume de madeira medidos ao longo dos anos indicaram a ocorrência do chamado efeito bordadura nos sistemas integrados. Esse efeito se refere ao crescimento superior das árvores posicionadas nas bordas, por receberem mais luz, água e nutrientes e por enfrentarem menos competição com árvores vizinhas. Esse efeito foi observado nos renques de linhas triplas, onde a árvore central apresentava menor DAP, assim como nas árvores da monocultura.

O efeito bordadura foi ainda mais evidente na análise de biomassa e acúmulo de carbono nas árvores. O sistema, que inicialmente possuía renques triplos e posteriormente passou a ter renques simples após a remoção das linhas laterais, foi o que apresentou o maior acúmulo de carbono, ultrapassando os 30 kg/ano por árvore. Esse valor se diferenciou significativamente dos demais sistemas, superando os cerca de 20 kg/ano por árvore na monocultura.

Além de promover um maior ganho em volume de madeira, com maior potencial para serraria, as árvores no sistema ILPF apresentam uma maior taxa de acúmulo de carbono. Esse é um carbono que, teoricamente, terá um ciclo de vida mais longo do que aquele usado como biomassa“, destaca Behling.

O pesquisador também ressalta que o carbono não se acumula apenas na madeira das árvores. Nos sistemas produtivos, as árvores também contribuem com uma grande quantidade de carbono na área na forma de folhas, galhos, serrapilheira e matéria orgânica.

“Cerca de 10 toneladas de resíduos por hectare, provenientes da área com árvores, permanecem no local. Isso sem contar os tocos e raízes, que em média representam 20% da biomassa total da árvore”, informa o pesquisador.

Maurel Behling

Recomendações para o Uso do Componente Arbóreo

Behling enfatiza que os resultados obtidos neste experimento, somados às experiências de produtores em Unidades de Referência Tecnológica no Mato Grosso, fornecem uma base sólida para a tomada de decisão no planejamento desses sistemas.

Segundo ele, se o objetivo for adicionar renda ou melhorar o conforto térmico para o gado, sistemas com linhas simples são mais recomendados. Por outro lado, se o produtor deseja um modelo com maior número de árvores, em que a venda compense as perdas de produção na lavoura e pecuária, é possível adotar renques de múltiplas linhas.

Se o objetivo é produzir biomassa, por exemplo, é importante ajustar o número de linhas ao parque de máquinas que realizará a colheita, de forma a viabilizar o custo“, orienta Behling.

A análise do mercado consumidor da madeira é outro fator crucial no planejamento do sistema. A madeira destinada à serraria possui maior valor agregado, mas depende da existência de infraestrutura de processamento. Na região médio-norte de Mato Grosso, por exemplo, o surgimento recente de usinas de etanol de milho alterou o cenário em relação a 2011, quando o experimento começou. Atualmente, a demanda por biomassa para as caldeiras é alta e tende a crescer ainda mais com a inauguração de novas plantas.

No caso da madeira serrada de eucalipto, ainda não é uma realidade na região, mas já existe demanda para madeira tratada para mourões de cerca, postes e construção civil“, relata Behling.

Finalizando o Ciclo e Iniciando Novas Pesquisas

O primeiro ciclo do experimento de ILPF, focado na pecuária de corte e na produção de grãos, está sendo finalizado com o corte raso dos eucaliptos após 12 anos. No total, ainda restam 3.666 árvores no experimento, ocupando uma área de 43 hectares, sendo 3 ha de monocultura e 40 ha de IPF, ILF ou ILPF. Dados preliminares indicam um volume total de 3.568,33 m³ de madeira a ser colhida. Considerando o valor de 100 reais por metro estéreo, o valor da madeira chega a quase 514 mil reais. Se a venda for para serraria, o valor pode ser ainda maior. Deve-se lembrar que, além da madeira, a área também produziu carne e grãos.

Com o fim deste ciclo, um novo experimento deverá começar no próximo período chuvoso. Desta vez, além do eucalipto, será utilizada a teca como componente arbóreo do sistema. Também será testado o consórcio entre as duas espécies, uma vez que a teca perde suas folhas no período seco, reduzindo a sombra para os animais. A ideia é que o eucalipto contribua para a manutenção do conforto térmico e para o escalonamento das receitas obtidas com as árvores.

Essas novas pesquisas visam aprofundar o conhecimento sobre o uso de diferentes espécies arbóreas em sistemas ILPF, contribuindo para a sustentabilidade e a rentabilidade da agropecuária brasileira. O experimento em Sinop demonstra que, com planejamento e uso de fundamentos técnicos, é possível integrar árvores, lavoura e pecuária de maneira eficiente e lucrativa.