Em recente estudo de pesquisadores da Universidade de Maryland (UMD), utilizando dados disponíveis no Global Forest Watch (GFW), analisaram de maneira detalhada como o desmatamento e incêndios florestais estão causando a perda de cobertura arbórea em todo o mundo.
As novas informações sobre a perda de cobertura arbórea devido a incêndios proporcionam uma visão incrivelmente detalhada das tendências ao longo das últimas duas décadas. Essas informações oferecem uma resolução sem precedentes, permitindo uma análise mais precisa das perdas causadas por incêndios.
Tendências de perda florestal causada por incêndios
Os dados são compilados anualmente, oferecendo uma perspectiva detalhada sobre as áreas afetadas pelo desflorestamento causado por incêndios. Cada pixel, com uma resolução de 30 metros, nos dados anuais de perda de cobertura arbórea é minuciosamente examinado utilizando imagens do satélite Landsat. Essa análise determina se a perda ocorreu devido à substituição de áreas florestais por incêndios, caracterizados pelo fogo que extermina a maioria ou todas as árvores vivas na região afetada.
Estes dados são essenciais para distinguir a perda causada por desmatamento e incêndios florestais de outros fatores que contribuem para o desmatamento, como a agricultura e a silvicultura. Ao empregar esses dados, padrões detalhados de perda de cobertura arbórea devido a incêndios foram examinados ao longo de um extenso período de 21 anos, abrangendo de 2001 a 2019.
Nesta análise, a perda de florestas decorrente de incêndios abrange tanto eventos naturais quanto aqueles provocados por atividades humanas, resultando na perda direta da cobertura da copa das árvores. Isso engloba incêndios florestais, bem como incêndios intencionais, como aqueles iniciados por seres humanos para fins relacionados à agricultura, caça, recreação ou mesmo incêndios criminosos que se propagam para áreas florestais.
Importante notar que não estão inclusas situações em que as árvores são derrubadas e posteriormente queimadas, uma vez que o fator inicial de perda nesse caso é a remoção mecânica. Além disso, incêndios florestais de baixa intensidade e ao nível do solo, que não resultam em perda substancial de vegetação rasteira na escala de um pixel de 30 metros, são excluídos desta definição.
No decorrer do tempo, esses dados serão objeto de atualizações anuais, proporcionando uma visão contínua e aprimorada das tendências globais, regionais e locais na perda de cobertura arbórea. Esta abordagem dinâmica permitirá uma compreensão mais profunda da evolução desses padrões ao longo do tempo, possibilitando a identificação de mudanças significativas e a formulação de estratégias direcionadas para a conservação e gestão sustentável das florestas.
O acompanhamento regular dessas informações contribuirá para uma abordagem mais eficaz na preservação dos ecossistemas florestais diante dos desafios emergentes relacionados a incêndios e outras ameaças.
PERDA DA COBERTURA ARBÓREA DEVIDO A INCÊNDIOS, 2001 A 2021
Destacamos que Rússia, Canadá e EUA apresentaram sa maiores perdas de cobertura arbórea devido a incêndios no ano de 2021. Esses três países somaram 7,8 milhões de hectares perdidos, representando impressionantes 84% de todas as perdas relacionadas a incêndios no mesmo ano.
A evolução temporal do desmatamento e incêndios florestais nessas regiões também foi examinada. Notavelmente, em 2021, a Rússia testemunhou a maior perda de cobertura arbórea em 21 anos, com impressionantes 82% desta perda sendo atribuída à incêndios. Uma análise geoespacial revela que a maioria dos incêndios na Rússia no ano de 2021 ocorreu nas áreas centrais e orientais do país, evidenciando a extensão e a concentração desses eventos.
Essas informações são cruciais para compreender dinâmicas específicas relacionadas aos incêndios, podendo orientar estratégias de mitigação e resposta em cada um desses países.
Outros fatores relacionados à perda de florestas causada por incêndios
Em determinadas situações, esse conjunto de dados também possui a capacidade de oferecer insights sobre tendências de perda florestal que não são originadas por incêndios. Isso é particularmente relevante, uma vez que a perda devido a incêndios tem uma variação significativa de ano para ano, influenciada por fatores climáticos e outras condições. Essa variabilidade sazonal pode, por vezes, obscurecer a identificação de tendências de longo prazo na perda de cobertura arbórea causada por outros fatores.
Por exemplo, a análise dos dados anuais de perda de cobertura arbórea referentes à perda de floresta primária no Brasil revela um notável pico em 2016 e 2017, um fenômeno que não é refletido no sistema oficial de monitoramento de desmatamento da Amazônia brasileira, o PRODES. A utilização desses novos dados permite uma compreensão mais aprofundada desse aumento significativo, indicando que grande parte desse pico foi resultado da perda de cobertura arbórea causada por incêndios, uma categoria geralmente não abrangida pelo sistema PRODES.
A distinção entre áreas em que o incêndio conduz à perda efetiva de floresta e aquelas em que não resulta em perda proporciona uma nuance crucial na interpretação dos dados. Essa abordagem mais refinada também possibilita comparações mais diretas com outras fontes de dados, promovendo uma visão mais holística e precisa das transformações nas áreas florestais. Essa compreensão mais detalhada é fundamental para orientar políticas e estratégias de conservação, permitindo a tomada de decisões mais informadas e eficazes.
Limitação no uso destas informações
Em estudos anteriores, as mudanças nos dados de perda de cobertura arbórea ao longo dos últimos 21 anos foram descritas, e foi recomendada cautela ao comparar tendências antes e depois de 2015. O novo estudo baseou-se nessas informações mais antigas, e, portanto, as mesmas precauções se aplicam, uma vez que desde então houve atualizações nos sensores dos satélites, resultando em discrepâncias nas informações coletadas em uma mesma área quando se utilizam sensores diferentes.
Embora as modificações nos dados tenham aprimorado a detecção da perda de floresta, incluindo uma melhor identificação de incêndios em regiões de florestas boreais e outras áreas, também introduziram inconsistências ao longo do tempo.
Apesar das inconsistências mencionadas, os novos dados apresentam elevados níveis de exatidão espacial e temporal em escala global. Internacionalmente, 90% das áreas classificadas como perda de cobertura arbórea devido a incêndios foram corretamente identificadas, enquanto os restantes 10% foram classificados como falsos positivos.
A precisão espacial variou em diferentes regiões, mantendo-se, no entanto, relativamente elevada na maioria delas. Europa e América do Norte apresentaram os mais altos níveis de exatidão espacial e temporal , com taxas de falsos positivos de 7% e 4%, respectivamente. Em contraste, a África registrou a menor precisão e o maior número de falsos positivos, com 39% da área considerada como perda de cobertura arbórea devido a incêndios classificados erroneamente. A alta taxa de falsos positivos na África é explicada em parte pela ocorrência relativamente rara de incêndios florestais na região.
Existem casos em que ocorrem atrasos na detecção da perda de cobertura arbórea devido a incêndios, especialmente quando a perda ocorre próximo ao final do ano, mas as imagens de satélite não são suficientemente claras para detectá-la até o ano seguinte. Essa observação é crucial, pois, por vezes, os picos nas perdas devido a incêndios podem refletir as tendências do ano anterior. De maneira geral, destaca-se que 96% de todos os eventos de perda relacionados a incêndios foram identificados dentro de um ano da data de perda mapeada.
Essa informação ressalta a importância de considerar a temporalidade na análise dos dados, reconhecendo que alguns eventos podem ser registrados com um lapso de tempo após a ocorrência real.
Os dados de incêndio disponíveis no GFW se dividem em duas categorias: dados de atividade de incêndio e dados contextuais. Os dados de atividade de incêndio permitem que os usuários visualizem incêndios em andamento e analisem a extensão dos incêndios em áreas de interesse, como um país ou polígono definido pelo usuário. Os dados contextuais podem ser usados para suplementar os dados de atividade de incêndio e ajudar os usuários a entender quais áreas estão em risco de incêndio e os impactos dos incêndios na qualidade do ar.
Os dados de perda de cobertura arbórea por incêndios diferem de outros dados de atividade de incêndio na plataforma do GFW porque se concentram somente em incêndios que substituem florestas, enquanto outros conjuntos de dados de incêndios não fazem essa distinção de outros incêndios. Isso é importante porque as florestas atuam como sumidouros de carbono e contêm a maior parte do carbono terrestre do planeta, que é liberado quando queimam.
A perda de cobertura arbórea dos dados de incêndio também rastreia incêndios em uma resolução muito mais fina do que os outros dados de atividade de incêndio; no entanto, também é atualizada com menos frequência, tornando-a menos útil para monitorar atividades de incêndio em andamento ou muito recentes.
Outros analises realizadas pelo GFW
- Alertas quase em tempo real (MODIS e VIIRS): Os alertas de incêndio ativos do MODIS* e do VIIRS fornecem dados quase em tempo real sendo atualizados diariamente. Podem ser usados para monitorar e responder a incêndios em andamento, detectar extensão dos incêndios, mas são afetados pelas temperatura, hora do dia e presença de cobertura de nuvens ou neblina pesada.
- Extensão do incêndio ao longo do tempo (áreas queimadas do MODIS): Embora atualizados com menos frequência do que os alertas quase em tempo real (mensais em vez de diários), os dados de área queimada do MODIS* são mais adequados para avaliar as tendências na extensão do incêndio ao longo do tempo, pois possibilitam a mensuração da área que foi queimada.
- Risco de incêndio (Índice Global de Clima de Incêndio): pode ser usado para identificar áreas onde as condições climáticas tornam as paisagens mais vulneráveis a incêndios, permitindo o entendimento e ações preventivas.
- Impactos na saúde (Índice Global de Qualidade do Ar): mede a qualidade do ar por meio do quantitativo de material particulado emitido pela fumaça e neblina dos incêndios. Com mais de 15.000 estações em todo o mundo, essas informações tem ajudado na medição do risco e efeitos à saúde relacionados à poluição do ar.