As mudanças climáticas têm afetado diversas regiões do mundo, e o Rio Grande do Sul (RS) no Brasil não é uma exceção. Recentemente, uma tragédia ambiental sem precedentes assolou o estado, deixando a população atônita e sem planos estratégicos imediatos para mitigar suas consequências. Nesse cenário, alguns críticos, os chamados “lacradores de plantão”, têm apontado a silvicultura, particularmente o cultivo de árvores e florestas plantadas, como uma das culpadas pelas mudanças climáticas. Essas críticas se referem ao cultivo de eucaliptos e pinus como “desertos verdes”, sugerindo que essa prática prejudica o meio ambiente.
Entretanto, é essencial destacar a importância da silvicultura para a economia brasileira. Essa atividade está posicionando o Brasil como um potencial líder mundial na produção de madeira, celulose, papel, painéis, pellets e biomassa florestal. A silvicultura contribui significativamente para o desenvolvimento econômico do país, aproveitando os recursos naturais abundantes do Brasil, como sol, água, solo e vento. Apesar de enfrentar barreiras comerciais e certificações rigorosas, o setor tem mostrado resiliência e criatividade, características intrínsecas ao povo brasileiro.
Infelizmente, a desinformação e a manipulação de fatos muitas vezes distorcem a percepção pública sobre a silvicultura. Essa “guerra da desinformação” transforma mentiras em verdades e cria um ambiente polarizado, onde se coloca o “bem contra o mal” e a “direita contra a esquerda”. No entanto, é crucial que o debate seja baseado em dados científicos e na realidade dos fatos, para que as decisões sejam informadas e benéficas para todos os envolvidos.
Voltando aos “desertos verdes”, a BBC News Brasil publicou uma matéria em 27 de maio destacando que a Câmara dos Deputados aprovou uma alteração na Política Nacional do Meio Ambiente. O projeto de lei 1366/22, do Senado, retira a silvicultura da lista de atividades potencialmente poluidoras e que utilizam recursos ambientais. Essa mudança gerou debate entre especialistas. O professor Rualdo Menegat, geólogo e doutor em Ciências na área da ecologia de paisagem da UFRGS, comentou sobre as transformações no Bioma Pampa, onde áreas de vegetação rasteira foram substituídas por plantações de soja e florestas de eucalipto. Já a engenheira florestal Ana Paula Moreira Rovedder, da UFSM, alertou que a silvicultura poderia intensificar as consequências dos eventos climáticos extremos.
Essa visão crítica levanta a questão: como a silvicultura poderia causar eventos climáticos extremos? Para responder a essa pergunta, é necessário analisar o contexto e as evidências científicas. Maximiliano Finckler, consultor florestal e ambiental, e ex-secretário de Meio Ambiente de Guaíba, esclareceu que, no auge das críticas à silvicultura, rastreou-se o financiamento de ONGs que propagavam teses contra o setor. Descobriu-se que grandes conglomerados europeus do segmento de celulose e papel financiavam essas pesquisas, questionando a imparcialidade e a validade das alegações.
É importante destacar que o Bioma Pampa possui cerca de 300.000 hectares reflorestados, o que representa apenas 2,78% dos 11.000.000 hectares totais. Diante desse cenário, é essencial questionar de que maneira a silvicultura poderia interferir no clima global de forma tão drástica.
Análise e Perspectivas
A silvicultura, quando manejada de forma sustentável, pode trazer inúmeros benefícios ambientais. Plantar árvores contribui para a captura de carbono, ajudando a mitigar as mudanças climáticas. Além disso, florestas plantadas podem ser usadas para restaurar áreas degradadas, melhorar a qualidade do solo e conservar a biodiversidade.
No entanto, é fundamental que o manejo florestal seja realizado de forma responsável, levando em consideração as características específicas de cada bioma e os impactos potenciais no ecossistema local. O planejamento cuidadoso e a adoção de práticas sustentáveis são essenciais para garantir que a silvicultura beneficie tanto o meio ambiente quanto a economia.
Texto adaptado: Escrito por Engº. Florestal ROBERTO M. FERRON para o jornal Bom Dia de Erechim – RS